Bem- Vindo

Bem- Vindo
Queria tanto ser poeta, falar do mundo, do amor... Porque não da dor? Do sofrimento... Da injustiça então... Enfim, falar do meu sentimento

segunda-feira, 9 de junho de 2014

Um poema, uma vida


O som da manhã é o ecoar dos passos e as vozes fantasmas a rasgar os corredores frios e os corações agrilhoados. É o tinir metálico das chaves, é o “bum” do ferrolho que se abre, é o som insípido e espaçado das embocaduras
É o silêncio que se esvai.

Depois,
o cheiro mesclado que se mistura e se vai com a água suja e ensaboada, depois as lágrimas, a violação dos sonhos, a morte do corpo.

E os precitos em terror desejam que a noite não cesse.
Ao invés dos gritos fantasmagóricos do dia, querem o pensamento a cirandar naquele espaço confinado e escuro. Só ali podem fingir que existem, que a vida também lhes pertence, e encobertos do mundo sorriem um sonho em que são livres das promessas e do medo.

Antes a dormência da escuridão.
Antes o som do silêncio e o vazio da vida em que nada acontece, do que aquele amanhecer nubloso de mais um dia de angústia e de dor.

Dor sem dor, porque ali a dor não dói.

Lugar habilmente escondido do sol, onde as palavras não vivem e as cores não se soltam. Que evapora a vida. Gládio que fere e se oculta das estrelas distantes e ignotas.

E os anátemas esquecidos pedem a Deus que baralhe a vida e dê de novo.

Um renome.
Qualquer coisa que apague o passado. Um interlúdio do dia que os livre do sobressalto e da culpa déspota.

Um gesto, mesmo insignificante que seja, um sorriso, um perdão, um poema dum poeta que se inspira e se revela.

Um poema,
Uma vida,

Dêem-lhes um poema,

Dêem-lhes um poema e uma vida.

 

Luís Paulo