Foi tudo tão rápido, tão
veloz…
Imaginava que o tempo
não passava, que era intemporal, que parava na passagem dos dias, que havia
tempo para tudo…
Como estava errado. Era
jovem, irreverente… para mim, o tempo corria tão devagar, que não se me
afigurava, que o tempo era unidirecional, assim como o trânsito numa rua de um só
sentido. O tempo corre, inexoravelmente para a frente, sempre para a frente… o
tempo, não tem marcha atrás.
Nesciamente, pensava ter
todo o tempo do mundo … não tive!
Quando penso no que
poderia ter dito… no que poderia ter feito… e não fiz…
Como lamento!
Se pudesse parar o Sol,
regredir os dias, voltar aos dias de infância, inverter o tempo e ter-te aqui… ah!
Se pudesse… começava tudo de novo.
Não seria tão ausente,
ficaria mais junto a ti. Não seria tão economizador das palavras, dir-te-ia o
quanto te amava, o quanto te amo. Não te mentiria como menti, falaria a
verdade… articularia palavras sãs, afetuosas, reconciliadoras, e principalmente
pedir-te-ia desculpa… pedir-te-ia perdão pelo que te fiz sofrer, pelas
discussões, pelo deixar-te a falar sozinha, pelo bater da porta…
Sei que não estou isento,
carrego a mágoa… conduzo no peito a dor do arrependimento, porque sinto-me
impotente e não consigo trazer-te a mim… esta incapacidade, esta inépcia de
retornar o tempo… castiga-me… esmurra-me de tal forma, que é o meu tormento.
Sinto tantas saudades
tuas… do teu rosto… tenho dias, como hoje, que traço o teu rosto numa audaz
fantasia… concebo teu rosto na memória, como a grávida o embrião e sinto
crescer a nostalgia. O tempo, esse verdugo, secou-me as lágrimas, agora, choro as
feridas de olhos secos, vazios, sem o sal curador, que acalma e alivia a dor. Nestes
dias, sinto-te o perfume das serras, das margaridas selvagens, das searas por
debulhar… ouço a tua voz, falo contigo em pensamento e digo as coisas que
ficaram por falar
Luís Paulo
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