Bem- Vindo

Bem- Vindo
Queria tanto ser poeta, falar do mundo, do amor... Porque não da dor? Do sofrimento... Da injustiça então... Enfim, falar do meu sentimento

quarta-feira, 20 de março de 2013

Onde estás?


Sem ti, sinto a vida vazia,

A alegria inerente nela, esvaeceu,

O sol que a guiava, apagou-se!

Noutro tempo,

nem mesmo o dia de maior tempestade, me roubava a alegria,

a luz,

Porque sabia-te ali.

Onde estás?

Percorro dia e noite as pedras da calçada,

Conheço as ruas de cor, os prédios por nome,

Vejo toda a gente, menos a ti…

Onde estás?

Preciso olhar-te, tenho medo de te esquecer

 

Luís Paulo
 
Tela de: Christopher Walker

 

 

 

domingo, 17 de março de 2013

O teu rosto


Foi tudo tão rápido, tão veloz…

Imaginava que o tempo não passava, que era intemporal, que parava na passagem dos dias, que havia tempo para tudo…

Como estava errado. Era jovem, irreverente… para mim, o tempo corria tão devagar, que não se me afigurava, que o tempo era unidirecional, assim como o trânsito numa rua de um só sentido. O tempo corre, inexoravelmente para a frente, sempre para a frente… o tempo, não tem marcha atrás.

Nesciamente, pensava ter todo o tempo do mundo … não tive!

Quando penso no que poderia ter dito… no que poderia ter feito… e não fiz…

Como lamento!

Se pudesse parar o Sol, regredir os dias, voltar aos dias de infância, inverter o tempo e ter-te aqui… ah! Se pudesse… começava tudo de novo.

Não seria tão ausente, ficaria mais junto a ti. Não seria tão economizador das palavras, dir-te-ia o quanto te amava, o quanto te amo. Não te mentiria como menti, falaria a verdade… articularia palavras sãs, afetuosas, reconciliadoras, e principalmente pedir-te-ia desculpa… pedir-te-ia perdão pelo que te fiz sofrer, pelas discussões, pelo deixar-te a falar sozinha, pelo bater da porta…

Sei que não estou isento, carrego a mágoa… conduzo no peito a dor do arrependimento, porque sinto-me impotente e não consigo trazer-te a mim… esta incapacidade, esta inépcia de retornar o tempo… castiga-me… esmurra-me de tal forma, que é o meu tormento.

Sinto tantas saudades tuas… do teu rosto… tenho dias, como hoje, que traço o teu rosto numa audaz fantasia… concebo teu rosto na memória, como a grávida o embrião e sinto crescer a nostalgia. O tempo, esse verdugo, secou-me as lágrimas, agora, choro as feridas de olhos secos, vazios, sem o sal curador, que acalma e alivia a dor. Nestes dias, sinto-te o perfume das serras, das margaridas selvagens, das searas por debulhar… ouço a tua voz, falo contigo em pensamento e digo as coisas que ficaram por falar

 

Luís Paulo
 
Tela de: Angelica Privalihin
 

quinta-feira, 14 de março de 2013

Aquela Primavera


Diz-me,

Fala-me daquele tempo, daquela primavera…

Lembras?

A tua voz é a melodia suave que anseio,

É vida, que aviva a minha vida, que enleio,

Sabes?

Inventei-te em mim,

 minha audaz fantasia…

Á noite, ao deitar, pouso a pensar,

a imaginar… como seria,

amar-te até ser dia…

Depois,

Vejo-te poema, sangue

corres-me nas veias,

bombeias-me o coração de palavras doces, tenras, de amor

versejas em odes as tuas rimas, num clamor

mitigas a dor, as mágoas do mundo lá fora, do horror…

 dos meninos de vida sem cor

Anjo, guerreira de Deus

émulo do diabo

ambicionas varrer o passado, apagar o pecado,

seguidamente,

És mulher,

A paz,

O meu sossego.

Falas por fim, daquela primavera…

Sacias-me a saudade,

A espera

Adormeço nesta quimera

 

Luís Paulo

 
Tela de: Michael Inessa Garmash

segunda-feira, 4 de março de 2013

A tua voz


Eram três horas da manhã e o sono não me acudia. Sentia-me esgotado, tinha o corpo dorido, com mágoa… levantei-me a respirar a rua. A noite estava sem luar, mas habitava tranquila, parecia dormir às escuras.

O ar fresco levou-me a ti. A tua imagem carregou com ela as saudades reclusas em mim, saudades da tua voz, daquele aveludar de palavras que me falavas e me suavizava os dias menos bons

Enlaçavas-me no teu sorriso tímido, ouvia as tuas frases, doces, harmoniosas, qual soprano de acordes divinos, deia das áreas de Beethoven e sentia o sossego tomar conta de mim

Não me larga a mente aquele dia, é como um quadro suspenso na parede do meu quarto. Assim como tu, o dia brilhava, quente, exposto ao sol… passeávamos de mão dada á beira da praia, os teus olhos eram a extensão do mar. Sorrias… aquele sorriso tão só teu, sorriso traquina, que desenhava covinhas no teu rosto. Ah! Como ficavas linda nesses momentos… contagiavas tudo com a tua alegria.

Subimos ao rochedo… chegámos sorrindo… cansados. Ali em cima, a paisagem era singular, o oceano vestido de azul, parecia estar pendurado no penhasco. Torneámos a enorme montanha, por baixo de arbustos centenários e no limite do rochedo, fizeste-o de proa… abriste os braços e plagiaste Kate Winslet e cantaste a canção “My heart will go on”, … apertava-te contra mim num abraço forte, viraste-te… beijámo-nos apenas com o céu como testemunha, e amámo-nos debaixo do sol.

Quando penso nesse dia… da tua voz, das palavras macias que me dizias, as noites não me deixam dormir, gritam o teu nome, e eu fico velando as horas vazias. Inclina teu ouvido e ouve o murmúrio do vento, ouve as palavras do meu coração, e por telepatia, ouço sempre: ”descansa meu amor”, e adormeço.

 

Luís Paulo

Tela de: Iván Slavinsky