Naquele tempo a vida
sorria-me,
Ia braço-dado com meu
pai, numa analogia robusta, incansável, onde acolhia o carinho, os conselhos
que me transmitiam a força necessária para os meus problemas costumeiros
próprios da idade e da inexperiência que me atacavam e cingiam no dia-a-dia.
Ia braço-dado
conjuntamente com meus amigos, amigos verdadeiros, num enlace espontâneo,
sincero numa afeição transparente e pura, onde as recreações, os passatempos eram
tão sadiamente só nossos
Viandávamos por uma
estrada estreita, sem a opacidade e a licenciosidade que a maioria elegia e
amava, que convertiam o amor em conduta desenfreada. Não! Os nossos caminhos eram
outros caminhos, não que andássemos numa redoma de vidro, estivéssemos num
pedestal ou usássemos uma auréola. Não! Éramos homens jovens como todos os
outros, mas apenas mais sensatos, acatando as leis dos progenitores, as leis
dos homens, para que não caíssemos na desonra e na vergonha de sermos violadores
das regras sociais. Não! Os nossos caminhos eram mais escorreitos, harmoniosos,
abertos, cristalinos e abastecidos de paz.
Nos sonhos? Áh! Nos
sonhos voava livre, com a liberdade dos pássaros.
Lentamente deixava a
estrada, as ruas barulhentas com a sua poluição e subia alto aos céus bem acima
da terra e respirava a lucidez do ar, tocava as nuvens e observava como tudo
era pequeno na terra. Os edifícios mais elevados eram apenas meros retângulos
na vertical. Os montes mais grandiosos eram somente sulcos lavrados pelo trator
do homem, ou esteiras produzidos pela água da chuva que corria em direção do
mar. Liberdade essa concedida por acatar as regras elementares da sociedade,
por reconhecer que só se é verdadeiramente livre quando acatamos a autoridade
das lei e voava, voava livre, protegido pelas leis de meu pai e dos homens.
Hoje, sinto saudades daquele
tempo e não sei se sou feliz. Assiste-me sérias dificuldades em definir a
felicidade
Se a felicidade for
medida por filósofos, que definem as emoções associadas á felicidade empregando
a palavra prazer.
Aí pergunto: felicidade
é viver intensamente um dia de cada vez? É a ausência de esperança e de
objetivos? É a busca incansável de prazeres efémeros? É carência de amor, de
paz e de liberdade?
Sim! Se a felicidade é
tudo isso, sim sou feliz.
Mas, e se a felicidade
for algo mais?
Se
for baseado em estudos na psicologia em que investigadores desenvolveram
diferentes métodos e instrumentos, a exemplo do Questionário da Felicidade de
Oxford, para medir o nível de felicidade de um
indivíduo. Esses métodos levam em conta fatores físicos e psicológicos, tais
como envolvimento religioso ou político, estado civil, paternidade, idade,
renda etc. aí a felicidade é um estado durável de plenitude, satisfação e
equilíbrio físico e psíquico, em que o sofrimento e a inquietude são
transformados em emoções ou sentimentos que vai desde o contentamento até a alegria
intensa ou júbilo. A felicidade tem, ainda, o significado de bem-estar espiritual
ou paz interior a definir sua natureza e que tipo de comportamento ou estilo de
vida levaria à felicidade plena.
Aí
nesse caso pergunto:
Ser
feliz é ter a esperança e acreditar num Deus superior a nós?
Sim,
acredito!
É ter uma família sempre
por perto?
É ter alguém á espera,
quando chegamos a casa exaustos no fim de mais um dia de trabalho árduo?
É o acontecimento de ao
jantar partilharmos em família as experiências do dia?
É o caso de ao deitar,
ouvirmos aquela voz melíflua, suave, tão próprio das crianças, que nos alivia o
coração, que nos lava a alma, que nos diz: Pai! Que corre para os nossos braços
num chi-coração forte, apertado, que nos liberta de todo o cansaço, da
ansiedade do dia, do medo do amanhã, que nos faz lutar?
Se a felicidade é isso,
então não! Não sou feliz
Não sei se sou feliz. Senão
sou, tenho saudades do ser…
Luís Paulo