Tu
eras a minha alacridade… meu pueril amanhecer, melhor que a estrela-d’alva,
eras um amável alvorecer
Com
o teu sorriso dispensava a luz da manhã e até mesmo das próprias candeias.
Teus
olhos, impolutos, eram enseadas de águas cristalinas, puras, refrescantes… onde
fundeava até á noitinha…
Meus
primeiros passos dirigi-os ti, onde aprisionei tua mão, e, de mãos dadas,
caminhámos amplamente num mundo tão só nosso…
Passeámos
melancolias, deambulámos adversidades, que a veracidade da vida nos alcança como
flechas afogueadas …
Mas
tu sorrias… aquele sorriso peculiarmente teu, sorriso fleumático… enganador das
dores, das infelicidades, das tristezas, das desilusões forçadas… por ditos…
por vezes ações de individualidades algumas nossas chegadas.
Causavas dos obstáculos um desafio e cobravas com
a bonomia do teu sorrir. Os momentos de maior debilidade, de plangência, eram
para ti oportunidades para me conduzir ensejos de ledice
Quando
a noite sulcada de breu me envolvia num abraço de terror, vinhas com teu braço
protetor, apontavas ao desconhecido o corpo sem temor… como homem de grande
vigor…
Eras
um verdadeiro pai
No
leito antes de dormir, perguntavas se já tinha rezado… Eu mentia, dizia que
sim… perdoa-me meu irmão…
A
vida é uma suave fragrância de primavera, uma dádiva robusta, corporizada numa
fragilidade de pétalas das mais delicadas flores…
É
efémera,
E
no entanto, a vida em ti quis desistir, cansou-se… não suportou a hipocrisia
plastificada na sociedade, os sorrisos adulterados, o egotismo, a picaria, o
lançar farpas que dizias ser tão prejudicial para outrem…
Querias
partir… para um mundo mais pacífico… e foste embora
Ainda
hoje, conduzo na memória o teu sorrir, acordes melodiosos que já não ouço… e
agora sinto saudades
A
vida pregou-me uma partida e amputou-me de ti.
Agora percebi que só as perdas humanas emprobecem verdadeiramente.
Obrigado
por teres feito parte de mim
Adeus
meu irmão
De:
Luís Paulo