Bem- Vindo

Bem- Vindo
Queria tanto ser poeta, falar do mundo, do amor... Porque não da dor? Do sofrimento... Da injustiça então... Enfim, falar do meu sentimento

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Memorial



Tu eras a minha alacridade… meu pueril amanhecer, melhor que a estrela-d’alva, eras um amável alvorecer

Com o teu sorriso dispensava a luz da manhã e até mesmo das próprias candeias.

Teus olhos, impolutos, eram enseadas de águas cristalinas, puras, refrescantes… onde fundeava até á noitinha…

Meus primeiros passos dirigi-os ti, onde aprisionei tua mão, e, de mãos dadas, caminhámos amplamente num mundo tão só nosso…

Passeámos melancolias, deambulámos adversidades, que a veracidade da vida nos alcança como flechas afogueadas …

Mas tu sorrias… aquele sorriso peculiarmente teu, sorriso fleumático… enganador das dores, das infelicidades, das tristezas, das desilusões forçadas… por ditos… por vezes ações de individualidades algumas nossas chegadas. 

 Causavas dos obstáculos um desafio e cobravas com a bonomia do teu sorrir. Os momentos de maior debilidade, de plangência, eram para ti oportunidades para me conduzir ensejos de ledice

Quando a noite sulcada de breu me envolvia num abraço de terror, vinhas com teu braço protetor, apontavas ao desconhecido o corpo sem temor… como homem de grande vigor…

Eras um verdadeiro pai

No leito antes de dormir, perguntavas se já tinha rezado… Eu mentia, dizia que sim… perdoa-me meu irmão…

A vida é uma suave fragrância de primavera, uma dádiva robusta, corporizada numa fragilidade de pétalas das mais delicadas flores…

É efémera,

E no entanto, a vida em ti quis desistir, cansou-se… não suportou a hipocrisia plastificada na sociedade, os sorrisos adulterados, o egotismo, a picaria, o lançar farpas que dizias ser tão prejudicial para outrem…

Querias partir… para um mundo mais pacífico… e foste embora

Ainda hoje, conduzo na memória o teu sorrir, acordes melodiosos que já não ouço… e agora sinto saudades

A vida pregou-me uma partida e amputou-me de ti.

Agora percebi que só as perdas humanas emprobecem verdadeiramente.

Obrigado por teres feito parte de mim

Adeus meu irmão

De: Luís Paulo